Das semanas que passei no Egipto trouxe muita coisa, muita gente, muitas experiências, dezenas de histórias para contar.
Mas talvez a melhor seja a do motorista que nos levou até à paragem de autocarros em Hurghada. O objectivo era apanhar um que nos levasse ao Cairo e, num acto de generosidade, a minha mãe declinou a oferta da limousine do hotel e decidiu que devíamos "ajudar" um dos taxistas com ar de fome que viviam às portas dos hotéis, alimentando a esperança (e também a barriga) de conseguir fazer algum dinheiro.
Com ar torcido eu e o meu pai lá a seguimos, mas logo a boa vontade nos passou quando, no meio de uma estrada escura sem luz, ele pára o carro e manda parar outro que seguia do lado contrário da estrada. Foram segundos em que nos passou tudo pela cabeça. Pensei o pior daquele rapaz de vinte e poucos anos, imaginei que já não voltava inteira a Portugal.
Só que afinal... o rapaz tinha visto que nos tinham mandado ir para a estação errada e queria que alguém lhe dissesse o caminho para a paragem certa. O pouco inglês que sabia, o jovem tinha sido criado no campo, não dava para dialogar connosco. Deixou-nos inteiros no sítio certo, pelo caminho ainda parou nos comprar coca-colas.
Aquele miúdo tinha saído de uma aldeia remota para as praias do mar Vermelho. Vivia no táxi que estava estacionado à porta do hotel o dia todo, sempre pronto para servir os turistas, só se ausentava uma hora para tomar banho num WC público da cidade. Ganhava 20 euros.
Naquele rosto eu vi o Egipto. O verdadeiro. O dos que não vivem, sobrevivem. O daqueles para quem a estabilidade de uma região não pode estar acima da barriga (vazia) dos filhos.
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