Thursday, March 31, 2011

Todos podemos ser AQUELE tipo de pessoa

Cresci com convicções muito fortes. Além das ideias e valores que me transmitiram sempre tive a noção do tipo de pessoa que queria ser: justa, honesta, solidária,... enfim... perfeita.

Mas mais do que ter a ideia do que queria ser, para mim sempre foi muito claro o que não queria ser. Durante anos houve, na minha mente, uma noção muito clara de várias coisas que eu não ia nunca fazer. E tinha certezas enormes sobre isto. Enormes. Tantas que foram várias as vezes que critiquei posturas menos correctas nas outras pessoas.

O tempo foi passando, eu cresci e dei por mim em situações onde nunca quis estar. A ceder onde nunca pensei ceder. A ter dúvidas em vez de certezas. De um momento para o outro tornava-me na tal pessoa que não queria ser. Quase sem dar por isso.

Foi aí que me dei conta do quão ténue é linha entre o que se quer e o que se deve fazer. E da facilidade com que qualquer um de nós pode ser a pessoa que escolhe o caminho menos correcto. E do quanto subjetivo é a noção de bem e de mal.

Quem nunca usou a expressão Eu não esse tipo de pessoa que atire a primeira pedra!

Sunday, March 20, 2011

Das pessoas constantes

É ao meu pai que vou buscar a serenidade. Aquele estado de espírito meio tranquilo que dá paciência para suportar os momentos mais complicados.

Foi com o meu pai que aprendi o que é ser uma pessoa constante. Daquelas que está presente para a vida toda, mesmo que não seja uma presença habitual de todos os dias.

O meu pai é o Norte. A minha mãe o sul. Eu saí uma mistura dos dois.

Monday, March 14, 2011

Para a C.

Estou quase há tantos anos na mesma situação em que ela estava quando a conheci. Lembro-me do que ela se queixava e comparo comigo, agora.

Confesso que na altura não dei o devido valor. A inocência da juventude fazia acreditar que todos os homens eram bons. (Não são.)

Quatro anos passados, tenho-lhe um enorme respeito. Enorme. Pela maneira digna como encarou as filhas-da-putice sucessivas. Pela coragem com que continua a trazer bebés lindos ao mundo, apesar da precariedade. Pela forma com os educa sem culpar o mundo. Por continuar a remar contra a maré. Por não desistir, quando era mais fácil ficar fechada em casa. Por conhecer o sentimento da solidariedade.

Sunday, March 13, 2011

Para a Paula Cosme Pinto

Antes dos grandes nomes jornalísticos, das grandes entrevistas e do frenesim mediático, esta menina percebeu que num sótão em Alfama nascia um grito de revolta.
Foi ouvir os três pares de mãos que lhe davam forma. Palmilhou meio país à procura de rostos da precariedade.

É graças às mãos dela que milhares de leitores levaram um murro no estômago quando confrontados com a vida dos que vivem na corda bamba. Nas últimas semanas, colocou-se em segundo lugar e mostrou um Portugal que todos gostam de deixar debaixo do tapete. Aquele trabalha sem certezas do amanhã, o que estica o saldo negativo para pagar as contas, o que tem um trabalho e não um emprego.

Tenho a sorte de ter orgulho em todos os meus amigos, mas neste momento o sentimento vai todo para a Paula Cosme Pinto. Sem medos e sozinha deu voz a milhares de pessoas que não a têm. Isto só tem um nome: Jornalismo, com "J" grande.

Por mim... Obrigada!

Foi bonita a festa, pá

Primeiro vieram os que estão cansados das bolsas, dos recibos verdes, do emprego não qualificado. Depois juntaram-se os desempregados, aquele que não tiveram oportunidades na vida e trabalham no que conseguem arranjar. A seguir chegaram os pais e avós que sonharam melhor para os filhos e netos.

Todos têm dificuldade em gerir o dinheiro ao fim do mês. Veem a vida pessoal adiada. Sonharam e têm direito a uma vida melhor. Acreditam no progredir e não no regredir.

Uns manifestaram-se contra este Governo, outros contra todos os que nos lideraram. Querem que o país mude, que avance. Uns são de esquerda, outros de direita.

Ontem, formaram todos uma enorme unidade. Eu vi-os, emocionada, dentro de uma redação cheia de vontade de despir a "farda" de jornalista e ir para a rua gritar.

Thursday, March 10, 2011

Jovens à rasca

Todos os meses se esforçam por sobreviver. Acumulam empregos, não sabem o que é um subsídio de férias, nunca receberam a dobrar no Natal, têm 30 anos e continuam a receber ajuda dos pais.

Andaram na universidade e não se limitaram a quatro anos de estudos superiores. Procuraram formação extra-curricular, não se limitaram às quatro paredes de Portugal e tentam conhecer o mundo de mochila às costas.

Sabem falar de um universo de coisas. Conhecem a situação no Irão, as violações dos Direitos Humanos no Darfur, sabem qual é o perigo de Portugal pagar juros tão altos, distinguem o Quebra-Nozes do Lago dos Cisnes e não se limitam à formatação da cultura imposta pela tv.

Querem mais. Querem ser melhores. Mas vivem à rasca.

À rasca porque os sucessivos governos os deixaram nesta situação. Porque se foi permitindo que o emprego fosse um luxo para toda a vida, mesmo para os que só têm vontade de aparecer depois de almoço. Porque na função pública a promoção é automática, independentemente do que se faça ao fim do dia. Porque permitiram que se abrissem cursos sem o mínimo sentido.

No fundo, porque nos fizeram chegar ao estado em que estamos. Ao Portugal pequenino onde um jovem a recibos verdes que ganhe mil euros leve pouco mais de 500 para casa depois dos descontos. Descontos esses que não lhe dão direito a baixa, a licença de maternidade ou a reforma.

Hão de pagar isso tudo a alguém sim, mas não aos que vivem na corda bamba. Aos que dão o litro sem garantias de que amanhã haverá trabalho.

Porque tenho em mim tenho em mim todos os sonhos do mundo

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

Sunday, March 06, 2011

A vida na cidade

Gosto de acordar cedo ao sábado e ir ao mercado, passear nas lojas do bairro e pedir o costume no café da esquina.

Gosto de chegar a casa perto da hora do almoço, tomar um banho, trocar a roupa de corrida e preparar-me para uma refeição à beira-rio.

Gosto de tomar um brunch de duas horas ao domingo. De palmilhar a rua do Carmo e subir até à Brasileira.

Gosto de sair de casa à meia-noite e ter um mundo de opções à minha espera.

Gosto que no quiosque saibam o meu nome.

Gosto de viver num bairro no centro da cidade.

For better or for worse...



É a máxima desta música que me acompanha no amor. Não vale a pena insistir em convencer a outra pessoa. Não vale a pena fazer chantagem emocional. Não adianta impor prazos. É inútil tentar criar qualquer tipo de sentimentos no outro.

No mundo das relações as coisas têm de ser naturais. "Caberá ao nosso amor o que há de vir", tal e qual como diz a música.

Para o melhor e para o pior tenho seguido este lema. Um dia gostava de olhar para trás e dizer que X está comigo porque sim, porque quer, porque gosta. No fundo, porque sabe o que quer e me quer a mim. Só a mim. Sem medos ou indecisões.

Friday, March 04, 2011

Desabafo quase em ponto de ebulição

Esta semana está a ser demasiado loooooonga.
Todos os dias ao fazer a marginal, Lisboa-Oeiras, sonho ao ver o mar. Não são grandes sonhos... Fico contente com um almoço na praia, um passeio na areia, uma corrida no calçadão.
É que esta semana está a ser demasiado looooooooooonga.

Thursday, March 03, 2011

Núcleo duro

Gosto de pessoas que "me entram" devagarinho. Começam por chegar com um sorriso, uma simpatia, ou uma opinião que me marca. Raramente são iguais a mim, mas em todas encontro pontos em comum.

Primeiro partilho bocadinhos da vida com elas. Aos poucos começo a encontra-las nos livros, na música, no cinema, nas viagens, nos sonhos. Por fim, acabo por partilhar a minha vida com elas. E isso sabe tão bem.

Ao meu núcleo duro.