Monday, January 31, 2011

Egipto I

Das semanas que passei no Egipto trouxe muita coisa, muita gente, muitas experiências, dezenas de histórias para contar.

Mas talvez a melhor seja a do motorista que nos levou até à paragem de autocarros em Hurghada. O objectivo era apanhar um que nos levasse ao Cairo e, num acto de generosidade, a minha mãe declinou a oferta da limousine do hotel e decidiu que devíamos "ajudar" um dos taxistas com ar de fome que viviam às portas dos hotéis, alimentando a esperança (e também a barriga) de conseguir fazer algum dinheiro.

Com ar torcido eu e o meu pai lá a seguimos, mas logo a boa vontade nos passou quando, no meio de uma estrada escura sem luz, ele pára o carro e manda parar outro que seguia do lado contrário da estrada. Foram segundos em que nos passou tudo pela cabeça. Pensei o pior daquele rapaz de vinte e poucos anos, imaginei que já não voltava inteira a Portugal.

Só que afinal... o rapaz tinha visto que nos tinham mandado ir para a estação errada e queria que alguém lhe dissesse o caminho para a paragem certa. O pouco inglês que sabia, o jovem tinha sido criado no campo, não dava para dialogar connosco. Deixou-nos inteiros no sítio certo, pelo caminho ainda parou nos comprar coca-colas.

Aquele miúdo tinha saído de uma aldeia remota para as praias do mar Vermelho. Vivia no táxi que estava estacionado à porta do hotel o dia todo, sempre pronto para servir os turistas, só se ausentava uma hora para tomar banho num WC público da cidade. Ganhava 20 euros.

Naquele rosto eu vi o Egipto. O verdadeiro. O dos que não vivem, sobrevivem. O daqueles para quem a estabilidade de uma região não pode estar acima da barriga (vazia) dos filhos.

Sunday, January 30, 2011

:)

Foi natural. Foi bom. Muito bom. Quando, finalmente, peguei no Manuel e o encostei ao peito fiquei arrepiada. Tive uma sensação estranha (boa!) de conforto.

É como se sempre tivesse feito aquilo, pegar num bebé. Enquanto olhava para ele, que tranquilamente dormia nos meus braços, pensei se não ando, ao engano, a perder o melhor do mundo.

Agora, só quero que ele cresça devagarinho para poder aproveitar cada bocadinho.

Monday, January 24, 2011

***


Bob: It gets a whole lot more complicated when you have kids.
Charlotte: It's scary.
Bob: The most terrifying day of your life is the day the first one is born.
Charlotte: Nobody ever tells you that.
Bob: Your life, as you know it... is gone. Never to return. But they learn how to walk, and they learn how to talk... and you want to be with them. And they turn out to be the most delightful people you will ever meet in your life.
Charlotte: That's nice.

Friday, January 14, 2011

Volver

É no meio de jornais dos anos 80 e a ouvir música que volto a 2006, o ano em que, oficialmente, comecei a minha carreira de jornalista.

Os primeiros passos já os tinha dado no fim de 2005, mas foi no "Público", na secção de Política, que tive a primeira carteira profissional, as primeiras lágrimas de vitória e derrotas, os primeiros desafios. Foi naquele ano, em plena campanha eleitoral que me senti jornalista, pela primeira vez.

Não preciso de fechar os olhos para me lembrar da arruada da campanha do Louçã, na Graça, e do jornalista da Lusa (que mais tarde se tornou um amigo) que me contou como tinha sido o primeiro "serviço" dele. "É uma coisa de que tu nunca te vais esquecer", disse-me ele com nostalgia. E eu nunca esqueci.

Volvidos cinco anos... o balanço é positivo. Mesmo assim, apetece-me voltar à inocência desses dias.

Friday, January 07, 2011

Resistir

Pode ser que não resulte. Pode ser que tudo fique na mesma. Pode até ser que a situação se arreste de maneira insuportável. Mas eu não desisto. É que já há muito que escolhi resistir.