Sou uma rapariga bem criada. Tive direito a todos os mimos e mais alguns deste mundo. O papá e a mamã nunca me faltaram com nada. Nem material, nem emocional.
Se por um lado nunca me disseram que 'não' a todas as coisas que lhes pedia, por outro sempre me explicaram que éramos privilegiados e que isso vem com responsabilidades acrescidas. Daí que tenha aprendido o valor do dinheiro, do trabalho, da dignidade, da solidariedade, da compaixão, da amizade, da partilha.
Fui filha única numa família onde a casa esteve sempre cheia. Desde cedo conheci pessoas e países que a maioria dos meus colegas - da escola pública "porque é importante conviver com crianças de todos os estratos sociais" -, nunca tinham ouvido falar.
Ensinaram-me a não fazer as coisas superficialmente. Se somos amigos, somos AMIGOS, se somos companheiros, somos COMPANHEIROS, se vamos à luta, então... preparamos-nos para entrar em guerra.
Depois cresci. Construí-me na pessoa que sou hoje com os alicerces que os meus pais me foram dando. Aproveitei cada bocado de experiência de vida, cada amigo, cada história, cada viagem.
Tornei-me mulher e com isso veio a parte mais difícil. O ter de conquistar aquilo que não era um bem adquirido. Apesar de não ser fácil para muita gente, a verdade é que depois de uma "vida de princesa" a vida levou-me a travar muitas batalhas.
Tantas que um dia ouvi o meu pai dizer, sem saber que eu estava a ouvir, que tinha orgulho em mim, porque eu não desistia, não tinha medo do trabalho, era esforçada em tudo o que fazia.
E era. Aliás, sou. Como diz a A., "tu procuras sempre o que é mais difícil'. Respondo-lhe que cada um é para o que nasce, por isso já desisti de mudar o meu dna.
Travei muitas batalhas, perdi quase todas as guerras. Mas também ganhei nessas derrotas. Fortaleci-me. Transformei-me numa pessoa que aguenta tudo o que lhe vão dizer. Mesmo que doa. E dói tanto. Tanto.(e são tantas as vezes em que a dor é mais forte que a minha capacidade de respirar) Mas aguento-me. Oiço. Reflito. Penso. E faço a digestão de cada problema de uma vez.
O caminho que tenho pela frente ainda é muito longo. Mas mesmo nos meus dias de maior cansaço nunca me passa pela cabeça desistir. Continuo a guiar-me da mesma maneira. A única coisa que mudou é que me tornei dura. Como um rochedo.
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