Monday, September 24, 2007

Lembrar os momentos que nos marcaram I

(Um post para a C.)


Acalma-me acreditar que os que partem vão para um lugar melhor, deste onde nos encontramos.
A imagem da perda é muito dura. Não consigo pensá-la como um fim. Antes o começo de uma qualquer etapa, que eu não sei como é.
Quando passam os meus dias de Alberto, e a minha procura por uma verdade definita e perfeita, procuro os que partiram.
Encontro o meu avô nos desenhos animados que víamos juntos. Sei que está sempre sentado na ponta do sofá, pronto para me contar uma história.

A minha bisavó Cença passeia-se pela casa, como se marchasse. Ficou-lhe o hábito da infância, por ter sido criada por um republicano. É sempre ela que abre a porta quando ajudamos alguém.
Todos os dias oiço o barulho do meu avô Carlos a escrever à máquina. O pai dele é a pessoa de cachimbo, que anda sempre carregada de livros, a discutir um mundo diferente.

O meu trisavô vive nas memórias da República. É esse princípio, o de um estado laico e igualitário para todas as classes, a origem das nossas ideias cá em casa.
Sei que sempre que caio me amparam as quedas. Estão sempre aqui. Ao pé de mim.

A tua avó continua aqui. Continua na tua mãe, em ti, e no teu mano.
Está presente nos hamburgos, no “ódio” aos comunistas, na crença de nossa Srª. Nas lágrimas de saudades que perdes, sem saber bem porquê. Na dignidade da tua mãe, que passou para ti.

Ela é uma das pessoas que vejo na tua cara quando falas de amor.
São dela as histórias que ouves à noite, na beira da cama.

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