Thursday, October 11, 2007

Novos papéis

Nos últimos dias fui eu que te quis carregar ao colo. Não que tu tenhas deixado de o fazer, mas pela primeira vez, eu tive vontade de agarrar e cuidar de ti.
Da mesma maneira que me embalas nos teus braços desde o dia em que nasci.

A vida coloca-nos provações terríveis. Num dia somos felizes, no outro não. Mas será que já chegámos à altura de partilharmos juntas os problemas. Será que vamos inverter os nossos papéis?
Eu sei que quero partilhar tudo contigo. Sempre soube. Só agora me sinto capaz de o fazer. Espero que confies em mim.

Para a minha mãe.

2 comments:

carla said...

FIQUEI SURPREENDIDA COM O COMENTÁRIO. ESPERO NÃO ME COMPORTAR COMO UM BEBÉ. TEM SABIDO BEM SER TÃO APAPARICADA, MAS, PARADOXALMENTE, SÓ DESEJO QUE ISTO ACABE DEPRESSA, PARA PODER CONTINUAR A DAR-TE COLINHO.
PODEREMOS SEMPRE PARTILHAR O QUE QUISERES. QUANDO TE APETECER.
BEM HAJAS!

Unknown said...

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:

Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.

Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.

E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade