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Com a casa nova, a primeira onde moro sozinha, oiço constantemente aquela frase bonita: e o seu marido? Volta e meia lá há quem diga 'namorado'. O melhor que já ouvi de imobiliárias, lojas de móveis, decoração e companhia é se a casa é só para mim... por agora.
Respondo sempre com um ligeiro sorriso amarelo que sim. E que estou a viver um dos momentos mais desejados da minha vida. Recebo, quase sempre, um sorriso de pena. Sim, porque na realidade é melhor (e isto não significa mais fácil) começar um projecto a dois.
Ter alguém com quem repartir as despesas, alguém que ajude a tratar dos milhões de papéis, alguém com quem discutir os móveis e o estilo da casa, alguém que se ofereça para carregar as compras, no fundo ter alguém que seja o porto de abrigo do fim do dia. A estabilidade.
Crescemos com a noção romântica de que vai chegar aquela altura, lá para os 20 anos, em que vamos conhecer a tal pessoa. Mal ou bem vamos acabar por ficar com essa pessoa. Aquela que nos completa, que nos faz palpitar o coração de cada vez que mete a chave à porta, a que conhece os nossos segredos mais profundos.
Só que depois... a vida complica-se. Conhecemos pessoas que nos fazem mal e caímos ao chão. Conhecemos pessoas que "apenas" nos magoam por não gostarem de nós da mesma maneira que nós gostamos delas. Conhecemos pessoas que magoamos sem querer porque não gostamos delas. Acabamos sempre por nos levantar e recomeçar. Dê lá por onde der, damos a volta. Custa. Dói. Mas damos a volta, mesmo que o coração trema por largos meses ao ver a cara desejada.
Neste longo processo de crescimento percebemos que não podemos estar à espera de situações perfeitas para seguir em frente. A vida também continua se estivermos sozinhos. E é este o caminho mais difícil. Aprender a estar bem sozinha, a gerir o espaço para uma só pessoa, a ter "vida" sozinha. Tudo isto pressupõe uma entrega enorme, a mais difícil de todas. A entrega que fazemos a nós próprios. Sem certezas de que o futuro nos vá dar algo a dois.
Apesar de ser mais fácil - e bem melhor -, partilhar a vida com alguém especial, eu continuo a preferir ter-me a mim por companhia do que arranjar uma pessoa só por arranjar. Foi este o compromisso que já há muito fiz comigo. Tenciono cumpri-lo. Por mais que as minhas noites sejam inundadas de nostalgia.