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Não fui criada com a ideia de "que na América é que é bom". Pelo contrário, sempre olhei com desconfiança para o país.
Na minha educação de esquerda, os EUA não eram o berço da liberdade de expressão. Eram a imagem atual do colonialismo e imperialismo. Mas também me deram a conhecer outra América, a do Woody Allen, da Susan Sarandon, do Martin Luther King, do Movimento pelos Direitos Civis, do jazz a sul do Mississipi.
Depois fui crescendo e, meio às escondidas, comecei a ver Beverly Hills e a gostar de All Stars e de Levis. No pico da adolescência quis trocar a pacífica e histórica Praga pela cosmopolita Nova Iorque. No entanto, a minha desconfiança com a América e os americanos manteve-se.
Estive na rua a gritar contra a guerra do Iraque em 2004, sou activa na luta contra a pena de morte, completamente contra Guantánamo, muito crítica da falta de Segurança Social no país.
O ano passado visitei os EUA e percebi que, ao contrário do que se diz, os arrogantes, na maior parte das vezes, somos nós, europeus. Somos nós que nos achamos civilizacionalmente e culturalmente superiores. O que em vários aspectos corresponde à verdade, na Europa não há pena de morte, há Estado social e toda a gente tem mais do que duas semanas de férias.
Mas a América tem uma coisa, a meritocracia. É difícil ser-se um dia pobre e no outro milionário, não compro essa ideia do sonho americano. Mas do outro lado do Atlântico a escada social é muito mais fácil de subir. Muito mais. Nada está garantido, para o bem e o para mal.
Há dez anos eu via-a confiança americana ser abanada pela mais cobarde das maneiras, ainda sem saber que uma década depois estaria apaixonada pelo país.